quarta-feira, dezembro 21, 2005

capitulo 9

9 - Filosofia de vida

Forma estranha de viver a dela.
Sempre a correr como se a vida acabasse dentro de cinco minutos.
Aproveita as festas ate ao fecho para não perder pitada e faz tudo o que se propõe.
E raro ver alguém assim sempre na roda-viva da vida.
Descansa pouco, mas diz ela que tem tempo quando morrer.
Quer doar o corpo porque acha que não lhe faz falta e como detesta enterros diz que assim serve duas causas ao mesmo tempo. Ajuda as pessoas na investigação da medicina e ajuda a família a não ter de passar pelos estúpidos rituais da morte.
De certa forma tem razão. Para que queremos nós o nosso corpo depois de morrermos? Para alimentar as ratazanas de cemitério e as baratas e minhocas que por lá vagueiam? Pelo menos que sirva para alguém descobrir uma cura qualquer ou para que alguém aprenda a ser um bom profissional na medicina.
Ela é pouco sensível, mas há causas que ela luta com unhas e dentes e defende os seus ideais ate morrer.
Nunca pensou como as outras raparigas. Nunca desejou casar de branco, de véu e grinalda e muito menos na igreja. Nunca acreditou na igreja e defende que o “nosso Deus” se está em todo o lado não precisa de padres e locais de culto para satisfazer as nossas vontades.
Ela sabe que todos temos de acreditar em algo que ultrapasse as forças humanas. Que esteja para lá do visível, mas dai a acreditar numa crença e numa mentira criada pelos senhores poderosos do nosso passado vai uma diferença muito grande.
Ela acha bonito e interessante o tempo da Grécia antiga e de Roma. Em que cada um acreditava no Deus que queria. Em que cada um fazia valer o seu gosto e a sua fé nos prazeres da vida. O Deus Baco ainda hoje ajuda os que na noite se divertem. Vénus ou Afrodite protegem os que amam e todos os outros que embora não amem assim esperam um dia amar.
Acredita numa revolução e na revolta do povo. Acredita que a rotina e o cansaço de toda uma geração afunda o pais aos poucos e que o fim do mundo existe.
Não acredita na política. Não acredita que o futuro seja regido pelo capitalismo. Não acredita nos homens nem na raça humana. Não acredita em si própria cada vez que comete um disparate.
Acredita sim na vida, na diversão, na amizade e no dia-a-dia.
Acredita na simplicidade do ser. Acredita na vida enquanto bem vivida.
Acredita que a vida só faz sentido se aproveitarmos as coisas mais simples e que só depois de as entendermos é que podemos passar a fase seguinte e complicada.
Acredita no amor embora não ame. Acredita nos valores que lhe foram incutidos em criança. Foram bons esses valores que fizeram dela o ser que é hoje. Acredita na educação que teve e que apenas vencem os que souberam sofrer. Os fortes de hoje foram no passado os fracos e os que hoje se tornaram fracos já foram um dia os fortes que governaram. A vida é assim, feita de fortes e de fracos, de ricos e de pobres.
Ela ama o que pode com as forças que tem.
A vida dela sempre foi um caos, mas tudo faz sentido assim.