domingo, outubro 16, 2005

capitulo 3

O trabalho vs noite

A vontade dela sempre foi trabalhar para alcançar a sua independência.
No verão procurava os famosos part-times mas sempre sem sucesso. Foi então que a sorte dela mudou.
Aos 18 anos, finalmente, conseguiu o tão esperado emprego. Foi uma loja de centro comercial, daquelas que vendem bijutarias baratas e rascas, carteiras com modelos copiados entre outras inúmeras coisas fúteis que as jovens compram para pareceram chiques e na moda. Ela nunca ligara a esse tipo de coisas. Preferia uma boa noite passada com amigos e gastar toda a sua mesada nessa mesma noite que gastar todo o seu dinheiro num par de brincos ou numa carteira que passados dias estava ultrapassada e estragada pelo uso.
Foi então que ela no 12º ano começou a ter o seu próprio dinheiro. Eram ordenados baixos, mas que a faziam feliz e orgulhosa por serem seus.
Foi um verão agitado. Para além de trabalhar ela tinha os exames nacionais, que passou com sucesso, apesar de nem uma página ter lido sobre qualquer uma das matérias. Apenas não fez o de matemática. Não por não gostar da disciplina, mas sim pela tripé que teve com a professora uns anos antes. Há sempre um no meio de muitos que nos faz a vida negra.
Foi um ano emocionante para ela e cheio de vitalidade.
Começou a sair com os seus amigos e durante todo o verão apenas um ou dois locais na cidade do Porto tinham o privilégio de a ter presente.
Na altura, a disco que bombava era o Santa Gota. Toda a gente tentava passar pela agressiva porteira que seleccionava o pessoal na entrada.
Iam todos de táxi uma vez que não tinham carta nem carro. Eram de certo os melhores tempos porque podiam todos brindar ao facto de serem amigos.
Foi lá que ela conheceu a noite. Foi lá que ela conheceu alguns dos seus amantes. Foi nessa mesma discoteca que ela conheceu um dos seus amores impossíveis.
Ele passava grande parte do seu tempo por lá assim como ela. Trocaram olhares e mais tarde um beijo, mas nunca mais que isso. Falavam imenso pelo telefone. Passavam horas e horas até a bateria acabar ou alguém os chamar.
Foram tempos bonitos, mas que eles complicaram. Talvez o que sentissem não fosse assim tão forte. Caso contrário teriam estado juntos mais vezes e teriam o tão esperado romance. No seu lugar restou apenas uma bonita amizade que com o passar dos anos esmoreceu e acabou por morrer.
Foi depois de o perder que ela descobriu mais um dos seus defeitos. Este por sua vez gravíssimo. Era ela demasiado orgulhosa para admitir que gostava dele. Ainda hoje o é, mas aprendeu a ultrapassa-lo para conseguir mais sucesso na vida.
Mas esse verão não foi apenas vivido à noite.
Ela deixou esse part-time foleiro e decidiu aceitar uma proposta de estágio que a escola ofereceu.
Foi trabalhar para uma firma muito grande e que cujo objectivo era apenas fazer as ferias de verão dos seus funcionários de escritório. Foi engraçada a situação, pois quando era ela mais pequena ela faltava à escola para ver a mãe a trabalhar e sonhava um dia ser como ela. Nesse verão ela conseguiu. Realizou a pequena fantasia de criança.
Mostrou ser uma jovem adulta responsável e conseguiu permanecer nessa firma durante uns anos. Optou mais tarde por se despedir e mudar de vida.
Mesmo tendo o seu tempo todo ocupado ela lá ia namoriscando aqui e acolá e tentando ser feliz. Mas como sempre deixamos essa felicidade escapar por entre os dedos porque a insatisfação nos faz esquecer que um dia somos felizes e no dia seguinte só não o somos porque não quisemos.
18 anos tinha ela e começou uma nova fase da sua vida.